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Inovação - Empreendedorismo

Inovação | O futuro está na economia criativa

Empresas tradicionais também podem se apropriar da economia criativa e se renovar

A concepção de economia criativa como estratégia de governo para alavancar a produção de um país e torná-lo competitivo no cenário internacional ganhou relevância na Inglaterra, com o primeiro ministro Tony Blair, nos anos 90.

O modelo foi bem sucedido e comprovou que havia novos caminhos para assegurar o desenvolvimento nacional sem depender de elevados investimentos em bens de produção, como foi concebido pela revolução industrial.

Apesar de a maioria das atividades abrangidas pela economia criativa não ser nova, nenhum governo havia pensado um plano de ação unificado para potencializá-las, o que só foi possível com a disseminação da informática.

A genial estratégia de Blair tornou-se factível a todos os países e o mundo inteiro tenta tirar proveito desse infindável mercado, que além de bens culturais, como cinema, música, dança, teatro e artes plásticas, envolve o lazer, o turismo, a moda, o design e a inovação tecnológica.

Enfim, um vasto campo de ação que tem determinado o rumo dos investimentos globais, estimulando a interface da indústria tradicional com esse admirável mundo novo, que areja os escritórios, dinamiza as relações, anima as fábricas, horizontaliza o pensamento e estimula a integração de profissionais, que se tornam corresponsáveis pelo sucesso das pequenas, médias e grandes empresas.

· Novo tempo

O pulo do gato se deu quando Bill Gates se desligou da IBM e partiu para a fundação da Microsoft, na década de 70. Consciente ou não, ele demarcou uma nova era da economia contemporânea, quando a máquina perdeu a dianteira na geração de riquezas para os programas de computadores, e inaugurou um tempo em que o capital humano tornou-se mais valioso do que os bens de produção.

A revolução de Gates avançou com a aquisição e desenvolvimento de buscadores. O surgimento do Google permitiu que o potencial da internet fosse mais bem explorado, integrando globalmente o sistema produtivo da criatividade.

A economia criativa não tem fronteiras. Para se ter uma ideia, pesquisas recentes em ciência e tecnologia tentam redesenhar o conceito de petroquímica. Pautado pela exigência ambiental por energia limpa, os pesquisadores querem um combustível que não polua a natureza.

Se alcançarem êxito, como tudo indica, a tendência é a superação de mais um paradigma que tem norteado a economia clássica: a dependência do petróleo.

O que era estratégia e fonte inesgotável de riqueza na velha economia tornou-se apenas um eixo teórico a ser superado na economia inteligente, como vem acontecendo com o petróleo, que será suplantado pela biotecnologia por uma miríade de novas fontes energéticas.

· Ser criativo

O que se percebe nos quatro cantos do mundo são movimentos alimentados pela criatividade, que ampliam e diversificam cada vez mais as possibilidades de negócio, com a multiplicação de nichos de mercado.

E o olhar dos novos empreendedores segue o caminho da inovação. Não vêm mais o hardware como mãe do processo, como foi concebido no século 18, mas sim o software, que é capaz de determinar o destino das máquinas.

Não vêm mais a internet como uma ferramenta da rede global, como foi pensada nos anos 70 e 80, mas sim os sistemas inteligentes que se apoderaram da internet para dar respostas a necessidades específicas de comunicação.

Não vêm mais a máquina que produz roupas em escala, e sim a moda, que atua no imaginário do consumidor e orienta a tecelagem. Não vêm mais a indústria que produz o carro, e sim o design, que desenha qual será o novo modelo a ser colocado no mercado.

A empresa tradicional, de qualquer tamanho, também pode se apropriar da economia criativa para se renovar e oxigenar sua estratégia de atuação, seja integrando-se em rede, seja tendo um bom software de gestão, ajustando o design de seus produtos e embalagens, revendo processos, avançando para e-commerce, descobrindo novos seguimentos de atuação, dando alma nova à equipe etc.

Os caminhos são múltiplos, e todos eles estabelecem uma interface com a economia criativa, que está redesenhando o mundo dos negócios num ritmo veloz, com consequências inesperadas. E o mais forte: estabelecendo novas matrizes de geração de riqueza.

· No Brasil

Diante de um cenário tão promissor – mas ainda mergulhado na economia informal, o que tem exigido uma ação criteriosa de consultores e caçadores de talentos – desde 2004 a economia criativa vem sendo debatida pelo governo brasileiro, que procura não apenas tirar proveito econômico como político do setor.

Uma série de mudanças está ocorrendo para facilitar o acesso aos bens culturais pela população pobre, como a reforma da Lei Rouanet, na tentativa de garantir recursos a projetos de inclusão social.

· Apoio oficial

O BNDES, a partir deste ano, pretende disponibilizar ao setor R$ 1 bilhão para financiamentos e fundos não reembolsáveis até 2012. O montante está focado no audiovisual (cinema e televisão), patrimônio histórico, música, jogos eletrônicos, fonográfico, editorial e espetáculos ao vivo.

Está sendo formatado também uma espécie de vale-cultura, semelhante ao vale-alimentação do trabalhador, um benefício para quem ganha até cinco salários mínimos. O objetivo do governo é tentar minimizar a defasagem intelectual entre os diversos segmentos sociais.

Segundo pesquisa do Ministério da Cultura, conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 14% da população brasileira vai regulamente aos cinemas, somente 4% da população frequenta museus e 78% nunca viu um espetáculo de dança.

Pelos cálculos do ministério, 12 milhões de pessoas serão beneficiadas de imediato pelo vale-cultura. Apesar de se tratar de uma visão assistencialista, a proposta, se levada a cabo, sinaliza um mercado interno em expansão.

Matéria editada em março | 2010